sexta-feira

Verdes?


Uma vez uma menina mimada, que já tinha idade para sair á noite, combinou um café com um miúdo na Praça Velasquez… Era Verão e a noite estava boa! Como era seu hábito, chegou atrasada e por pouco não perdeu o café (café esse que nunca existiu porque foi tudo mais rápido do que era suposto)… Coisas que ela achava que nunca iriam acontecer e que adorava criticar quando alguém lhe contava que o tinha feito. Era Verão e isso diz quase tudo!
Desde ai que a conversa se foi mantendo, os cafés foram tomados com mais frequência, ia sendo bom estar com o tal miúdo que a Queima de 2008 lhe tinha apresentado e lá foram dando passos na “relação” que iam mantendo umas vezes próxima e outras mais distante.
O sentimento cresceu e tudo mudou…
A história não foi longa, mas durou o suficiente para hoje a estar a escrever. E se bem se lembra, passaram 2 anos… Surpreendentemente foram-se aguentado longe/perto, bem/mal, fortes/fracos, durante esse período de tempo.
Mas… depois de muitas vezes ter atravessado a ponte, de ter feito viagens e mais viagens a correr atrás do miúdo, de ter sorrido e chorado o suficiente, de ter aprendido umas coisas importantes e de ter perdido muito do brilho que tinha nos olhos, esses mesmos olhos VERDES que desde cedo se prenderam às pestanas grandes do miúdo, a menina mimada percebeu que era hora de o deixar ir sozinho conhecer o mundo, descobrir por ele tudo o que ainda tem para descobrir! Ganhou coragem, abriu o coração que até então era como uma gaiola onde ele se sentia fechado e deixou-o ir…

Na despedida, a que nunca tiveram, ela fechou o coração a outros pássaros e decidiu arrumar a gaiola, tirar-lhe as grades que nunca deviam ter existido, plantar flores e tornar aquele lugar mais solarengo e aprazível para ela mesmo se sentir confortável lá dentro.
A menina chorou uma noite inteira, escreveu para o miúdo o que até hoje nunca lhe disse e fechou-se nela própria, até quando não se sabe…
Há quem diga que continuará a gostar dele pela vida, sabem os que a conhecem que o espaço que era dele ali permanecerá intocável, não na esperança de o ver regressar depois de ter cruzado todos os céus, mas na certeza de que com ela ficaram as lembranças de uma noite de verão que se prolongou por todas as estações.
Talvez o destino os volte a cruzar, talvez este não tenha sido o momento para partilharem gaiolas sem grades, talvez um dia os olhos verdes da menina se cruzem com as pestanas grandes do miúdo e se transformem num só olhar, tal como um dia o miúdo lhe disse ser possível…
Hoje com o cair da noite, há quem conte que ela calou tudo o que o coração lhe queria dizer, fez-se forte na sua redoma, fechou os olhos e sonhou com borboletas frágeis e pássaros de asas enormes.
Ouvimos por ai pela boca dos que nunca a entenderam que desta vez chegou ao fim, diz-se mesmo que foi o miúdo que lhe disse sem rodeios…o que é certo é que a menina ainda acredita que os amigos e amores que um dia fizeram parte da sua vida, nem que seja em velhinha a irão abraçar pela última vez.
E com toda a certeza, um dia cruzar-se-á com o pássaro num céu que ela mesma também descobrirá!
A menina acredita que um dia o orgulho do miúdo o deixará agir com sensatez, mas isto são só coisas que se ouvem...
Nunca saberemos se um dia os miúdos se voltarão a cruzar num café da Praça Velasquez...mas se isso acontecer, daqui por muito tempo, alguém se encarregará de dar continuidade a esta história pequenina, que não se conta para embalar bebés, mas que se lê baixinho para si mesmo.

"Verdes?"

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