sexta-feira

"Ela" faz-nos pensar

Quando perdemos alguém de quem gostamos, ou alguém com quem simplesmente partilhamos um ou outro momento, sempre que nos chega a notícia de que a vida ali ao lado terminou, damos por nós a pensar! É triste, mas é verdade!
Deixamos que o tempo se encarregue de minimizar a nossa dor, que nos alivia as saudades, e na nossa cabeça giram umas tantas coisas que gostavamos de fazer, que deviamos dizer, sonhos que queremos muito realizar... Enquanto fazemos o nosso luto, enquanto a perda é fresca na memória, achamos que esse é o momento mais indicado para fazer tudo e mais alguma coisa, porque estamos “alimentados” de recordações que nos tendem a aliviar a tristeza.
Percebemos que perdemos tempo com coisas pouco importantes, que andamos chateados com meio mundo e achamos sempre que a cedência não tem de partir de nós. O nosso orgulho é, na grande parte das vezes, o nosso maior inimigo, muitas vezes maior do que a razão ou do que a nossa própria vontade! Confundimos o orgulho bom com o mau e tabelamos tudo da mesma forma. Como se só a nossa maneira de pensar fosse a acertada e todos os que nos rodeiam estivessem errados.
Quando a notícia nos bate à porta, ficamos sem chão e lamentamos o que não foi feito, os erros que nunca foram remediados, as palavras que nunca foram ditas, o “obrigada” e o “desculpa” que queriamos ter dito, mas que por falta de qualquer coisa que muitas vezes chamamos oportunidade (desculpa fácil para tanta coisa) ficou retido no pensamento e nunca se soltou de lá.
E agora? Agora vamos desejar aquele último encontro, vamos pedir ao tempo para voltar para trás e culpar a morte porque chegou demasiado rápido, sem avisar, e não nos deu tempo para aquilo que gostavamos e precisamos ter feito. Temos sempre de arranjar um culpado para o que sabemos ter sido erro nosso, e responsabilizar a morte é a forma mais fácil de sacudir uma parte do sentimento de culpa que nos rouba horas de sono.

Julgo não saber lidar bem com a perda (será que há quem saiba?) com o sentimento de vazio que aquela pessoa deixou, com as saudades que crescem com o tempo, com as recordações que, mesmo sendo boas, deixam sempre o coração apertado, mas gostava de ser capaz de crescer interiormente ao ponto de sair da minha zona de conformo e dar todos os passos que ainda não fui capaz de dar, muitas vezes por “falta de oportunidade = comodismo + orgulho”. Talvez por ainda ter perto de mim todos aqueles que amo me acomode e não me esforce para ser melhor, talvez por achar que está inerente nos laços de sangue o afeto e o amor, tenda a não demonstrar que os amo da mesma forma incondicional que eles me amam a mim. Nunca me senti uma pessoa despreendida de afetos, mas reconheço que não sou o melhor exemplo de alguém que se dá aos outros na mesma proporção que os outros me dão. Não sou propriamente carinhosa e tenho uma grande dificuldade em dizer às pessoas o quanto gosto delas e como seria tão infeliz se não estivessem sempre ao meu lado. Não sei se será defeito, prefiro acreditar que é feitio! E quando ouço a palavra “morte” fico a tremer por dentro, imagino tudo e mais alguma coisa, ando com esse bicho na cabeça dias a fio. Digo a mim mesma 1000 vezes que tenho de mudar, que preciso ser melhor, mas... os dias passam e volto ao mesmo, confiante de que aqueles que amo nunca me deixarão sozinha! Sinto que é um erro enorme acreditar que os amores incondicionais não precisam ser alimentados, da mesma forma que alimentamos os “outros amores”, e é essencialmente este pensamento que preciso mudar. Aliás é aquilo que muitos de nós precisam rever, porque a vida é, efetivamente, um sopro!

Sempre que o céu ganha uma estrela, eu dou por mim a pensar nestas coisas todas.