quarta-feira

Dias

Pareceu-me ter acordado contigo ao lado, colado á minha almofada, agarrado ao meu edredon... sentia-te ali mesmo ao ladinho, como se o calor do meu corpo fosse uma mistura do teu, como se a tua respiração estivesse a percorrer-me o pescoço.
Deixei-me ficar naquela quietude que podia ter durado a manhã inteira. Naquela pequena ilusão de te ter perto, como se não houvesse mundo lá fora á nossa espera.
Abri os olhos devagarinho...a almofada estava no sitio de sempre, igualmente vazia... o edredon continuava impecavelmente esticado... e nada me fez acreditar que tivesses estado ali um minuto que fosse. Tudo vazio, tudo arrumado, tudo dolorosamente igual.
Virei as costas ao lado vazio da cama e deixei-me ficar enroscada naquele silêncio tão meu. Não te sentia mais, o corpo arrefeceu.
Percebi que o meu amanhacer perdeu a cor, sem me ter dado tempo de sair da cama e espreitar o sol.
Forcei-me a levantar e a procurar por nós... Onde te terias escondido? Onde estariam as tuas coisas espalhadas? E onde estava o cheiro do perfume que ambientava o quarto sempre que chegavas? Nada...

"Não te quis acordar.
Um dia os dias serão nossos."

Por momentos, o medo de não saber de ti deixou-me esquecer que os dias ainda não são nossos e os amanheceres ainda não são partilhados.
O dia mudou de cor por saber que estás sempre ai, onde nem sempre te vejo, mas de onde nunca desapareces.
Dias de coração cheio*

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