sábado

9 de Dezembro


Um dia 9 igual a todos os dias 9 que estão para vir...
Para sentir até onde me estava a doer eu fui...Pela 1ª vez ao fim de tanto tempo estacionei no mesmo sitio!Ali, logo ali atrás delas.
Baixei o som da música, parei as escovas do vidro, e deixei-me ficar em silêncio só a olhar para elas.
Estavam no mesmo sitio, igualmente molhadas pela chuva que caia, inundadas de tristeza por verem partir o que o mar lhes tinha levado.
Não havia ali mais ninguém entre nós. Era espaço vazio e molhado...Chão que não quiz voltar a pisar. Fechei durante algum tempo os olhos e deixei-me ficar...
Fui capaz de perceber que a dor não era a mesma, que a feriada era mais pequena e que tudo iria passar mais rápido que imaginava. Fui capaz de perceber que cresci com aquela forma violenta de dizer Adeus!
Precisei de as ver, de olhar para aquela imagem onde o céu toca o mar, precisei de me agarrar ao que ali ficou para respirar novamente,serenamente e em paz. Nunca nada depois delas foi igual e se agora o tempo me cicatrizou a ferida, eu não vou deixar que mais nenhuma se abra! Aprendi ali a cuidar de mim, aprendi com elas a chorar de saudade e a virar as costas ao mar porque esperar o regresso não é a solução. A solução está em seguir caminho, em andar para a frente e esquecer o que passou.
Não quero nenhum regresso, não quero nenhuma ferida, não quero nenhum outro momento como aquele.
Liguei as escovas e olhei-as mais uma vez,como se assim as lágrimas também tivessem sido limpas. Olhei e agarrei-me só aquela lembrança...tão minha e tão importante. Tão fria e tão presente.
Ali, onde acalmo o coração, onde me encontro, onde só eu me entendo.
E nenhuma outra recordação durou tanto tempo, e nenhum outro sitio se revela tão porto de abrigo e de respostas.
Eu fui...sozinha, porque foi sozinha que fiquei no dia que lhes virei as costas até hoje!
E se hoje as procurei para me encontrar dentro de mim mesma, acompanhada pela dor desconfortável de uma perda... Quero um dia procurá-las para lhes mostrar como a felicidade somos nós que a fazemos.
Liguei o carro e sai dali...mais leve e muito mais em paz. Sem que alguém um dia entenda porquê!
Numa cumplicidade só nossa, a cumplicidade de quem me ouve e guarda segredo. Como boas bonecas de pedra que são.
E apaguei todas as lembranças de outros dias 9.